21 de mar. de 2013

Um Papa chamado Francisco! Reflexão do Cardeal Odilo Scherer

“Várias surpresas deixaram desconcertados os ‘vaticanistas’ mais experientes”

Cardeal Odilo Pedro Scherer
Arcebispo metropolitano de São Paulo
Quanta coisa eu gostaria de escrever neste breve artigo! Antes de tudo, louvor à Providência de Deus, que não deixa faltar pastores à sua Igreja que a conduzam conforme o coração de Cristo. Logo após a eleição do novo Papa, ainda na Capela Sistina, os cardeais cantaram a plenos pulmões o hino de louvor à Santíssima Trindade – Te Deum laudamus! Muitos tinham lágrimas nos olhos.

A Igreja recebeu um novo Sucessor de Pedro para conduzi-la nos caminhos do Evangelho e para animar todos os seus membros no testemunho da salvação de Deus, manifestada a toda a humanidade por meio de Jesus Cristo. Participei pela primeira vez de um Conclave e posso dizer que foi ocasião para uma experiência eclesial única e profunda! Pude perceber a sincera busca do melhor para a Igreja e sua missão. O Espírito Santo não dorme!

Antes de entrar no Conclave, rezamos muito, tratamos com franqueza, respeito e profundo senso de responsabilidade as questões que precisavam ser tratadas em vista da escolha do novo pontífice. O clima no Colégio Cardinalício era sereno e fraterno. A entrada em Conclave, com o canto da ladainha de todos os Santos e da especial invocação do Espírito Criador – Veni Creator Spiritus – foi o início de um ato continuado de oração, que durou até à escolha do novo Papa. Para tudo isso, não podia haver espaço mais apropriado que a Capela Sistina, com os esplêndidos afrescos de Michelangelo, especialmente da grande cena do juízo universal.

Eleito o cardeal Jorge Mario Bergoglio, arcebispo de Buenos Aires, ele escolheu o nome de Francisco, em memória a São Francisco de Assis. Várias surpresas deixaram desconcertados os “vaticanistas” mais experientes: um Papa não-europeu, já nem tão jovem, um latino-americano da Argentina, o primeiro Papa jesuíta, que toma o nome de Francisco ainda não usado por nenhum pontífice anteriormente! Bem que Jesus disse: o Espírito Santo sopra onde quer e ninguém sabe de onde seu sopro vital vem, nem para onde vai… Precisamos todos estar atentos à sua ação, deixando-nos conduzir por ele!

Certamente, Francisco é um nome muito indicativo das características que o novo Papa quer dar ao seu pontificado. São Francisco tinha sido um pecador, dado às vaidades do mundo; mas encontrou a misericórdia de Deus e se voltou inteiramente ele: “meu Deus e meu tudo!”. A partir de sua conversão, procurou viver o Evangelho em profundidade, cultivando a comunhão com Deus e desejando voltar-se sempre mais para Cristo, a ponto de ser chamado de “homem inteiramente cristificado”.

Não é esse mesmo o apelo que a Igreja recebe e faz a todos, desde há mais tempo?! Conversão para um renovado encontro com Deus, um discipulado verdadeiro, para a santidade de vida através da comunhão profunda com Deus, deixando-se abraçar e amar por ele? Na sua primeira Missa com o Colégio Cardinalício, no dia seguinte à sua eleição, o Papa Francisco observou que, sem essa comunhão profunda com Deus e a identificação com Jesus Cristo “crucificado”, sem confessar o seu nome, a Igreja não passa de uma “ONG piedosa”… Na Basílica de São Francisco, em Assisi, há uma bela escultura do Santo abraçado aos pés do Crucificado, que baixa a mão direita para abraçar Francisco.

Mas não é só isso: tendo conhecido a misericórdia e o amor infinito de Deus Pai, São Francisco passou a reconhecer, em cada criatura, um irmão e uma irmã; sobretudo nos homens e mulheres, buscando viver com todos a fraternidade universal, sem excluir ninguém. Coração livre, ele podia amar a todos de coração inteiro e puro. Amou, sobretudo, os doentes (o leproso!), os pobres, os pecadores, os supostos “inimigos”; conseguia dialogar com os “diferentes”, sem mais nenhum dos preconceitos que regulam, geralmente, as relações humanas. Que grande desafio para a Igreja e a humanidade inteira!

Outra dimensão nada secundária na escolha do Papa Francisco: após sua conversão, o Santo de Assis ardia pelo desejo de falar a todos do amor misericordioso de Deus: “O Amor não é amado, o Amor não é amado!” – saiu a gritar pelas ruas e as pessoas acharam que estivesse louco. Louco de amor a Deus! Havia compreendido a loucura de Jesus Cristo crucificado e que era preciso anunciar a todos essa bela notícia. Assim, São Francisco enviou seus frades como missionários em todas as direções. E essa dimensão missionária urge mais do que nunca em nossos dias.

Papa Francisco já entrou no coração do povo. Deus o ilumine e fortaleça! Deus abençoe toda a Igreja e a humanidade inteira através do seu ministério petrino, como servidor das ovelhas do Supremo Pastor! E São José, que festejamos no dia da inauguração solene de seu pontificado, interceda paternalmente pelo Papa Francisco!

Fonte: Canção Nova